terça-feira, 1 de julho de 2008

Eleitor reprova forma de combate à inflação, mas ainda preserva Lula

Segundo CNI/Ibope, 65% apostam em alta inflacionária; aprovação do governo é de 58% e a do presidente, 72%

Carlos Marchi

Uma onda de pessimismo - a economia, sempre a economia - ronda as expectativas do eleitorado brasileiro e acende uma luz amarela para o longo idílio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o eleitorado brasileiro, que lhe tem garantido a imagem blindada a escândalos e problemas desde início de 2006. A imagem do presidente e do governo ainda não foram afetadas, mas a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostrou que 65% dos brasileiros - o mais alto índice de todo o governo Lula - acham que a inflação vai aumentar (em março, 51% apostavam na alta).

Com exceção do curto período do mensalão, os escândalos não chegaram a afetar a imagem de Lula e do seu governo, por serem de difícil compreensão pelo eleitorado, explica Márcia Cavallari, diretora do Ibope. “Mas com os problemas da economia é diferente. O eleitor sente no bolso e percebe de forma concreta”, explica. Márcia acha que, se o governo não der respostas imediatas às vulnerabilidades da economia, as imagens de Lula e do governo poderão ser, afinal, arranhadas.

Ela registra que todos os indicadores de expectativa sobre a economia variaram negativamente. A aprovação da política do governo no combate à inflação caiu 10 pontos porcentuais (de 51%, em março, para 41%) e a desaprovação subiu 10 (de 43% para 53%). Para 46%, a inflação “vai aumentar” e, para 19%, “vai aumentar muito”.

E não é só. Em março, 42% diziam que o desemprego iria crescer ; agora, o número subiu para 52% (“vai aumentar” para 38% e “vai aumentar muito” para 14%), o que simboliza aumento da descrença nos fundamentos da economia. A mesma visão negativa impactou a expectativa de aumento da renda pessoal: em março, 42% acreditavam que sua renda pessoal cresceria nos seis meses seguintes; agora, apenas 37% continuam acreditando nisso.

A aprovação à política de juros do governo caiu 8 pontos (de 39% para 31%); a aprovação da política de impostos encolheu 4 pontos (de 35% para 31%), com o provável reflexo da tentativa de aprovar uma nova CPMF; o combate ao desemprego caiu 3 pontos, sempre acima da margem de erro da pesquisa. Uma queda de 7 pontos (de 60% para 53%) na aprovação da política de meio ambiente, um ícone que o governo Lula perdeu quando a ex-ministra Marina Silva pediu demissão, completa o quadro registrado pela pesquisa.

REFLEXOS NA IMAGEM

Por enquanto, as vulnerabilidades da economia que o eleitorado passou a enxergar não atingiram a imagem do presidente. Márcia revela que a pesquisa divulgada ontem não exibiu arranhões na imagem de Lula e do governo porque não houve tempo para que as vulnerabilidades afetassem a avaliação do eleitorado. “Mas isso pode acontecer, se o governo não reverter a situação logo”, diz.

Márcia reconhece que a pesquisa registrou um aparente descompasso: enquanto a expectativa do eleitorado piorou em todas as variáveis, a avaliação geral do governo se manteve intocada, com 58% de ótimo/bom (uma taxa muito próxima dos 60,82% de votos que Lula teve no 2º turno em 2006) e apenas 12% de ruim/péssimo.

A aprovação pessoal do presidente preservou espetaculares 72%, com 24% de desaprovação; o índice de confiança no presidente Lula continuou estável, registrando os mesmos 68% obtidos em março passado, e a nota média para o governo foi de 7,0 (7,1 em março).

A pesquisa CNI/Ibope entrevistou 2.002 eleitores entre os dias 20 e 23 de junho, com uma margem de erro de 2 pontos porcentuais. (O Estado de São Paulo).

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